Difícil acreditar nessa reinvenção nos parâmetros estilísticos do grupo onde tudo está focado numa proposta muito mais comercial, cuidada e perspicaz do que a produção anterior como um todo. Encontramo-nos com um álbum que, ignorando a sua produção mais do que melhorável, oferece-nos um conjunto de canções que captam de imediato a atenção do ouvinte. Eu acho que Wikkid Starr atingiu seu ponto ideal desta vez. Desde o primeiro momento, os teclados, até agora inexistentes, assumem o espectro sonoro, servindo bem como base, ou como parte principal de cada música. Além disso, a forma como Richards aborda as partes vocais modula para texturas mais melódicas, fazendo-nos esquecer a irreverência anterior dos modos mais próximos do street hard.
Este é mais um filme, uma mudança de paradigma, uma evolução para sons muito mais aceitáveis para a zona melódica, com padrões atuais e vontade de impressionar. A guitarra de Rafa Souza, mais do que inspirado, é a espinha dorsal de todo o conjunto, brilhando a uma altura nunca vista, seu trabalho nas seis cordas é louvável, com solos memoráveis e acompanhamento de frases firmes e inteligentes, um shredder ao serviço das músicas.
Tudo começa com a música homónima “Return To Glory” onde os próprios teclados dos Van Halen anunciam as novas coordenadas da banda, uma música épica com um ótimo refrão, a primeira grande surpresa do trabalho.“Unleash De Fury” contém refrões desde o início que são contagiantes e cativantes como chiclete com um jogo de verso refrão do melhor do álbum."Ready Or Not" como o tema mítico dos Europe, nada a ver com os suecos mas sim, coincidentemente com o scandi AOR, pois poderia passar por um tema dos Eclipse sem nenhum problema se trocássemos a linha de voz de Richards por uma de Martensson, ótima música apesar da sensação de nos encontrando em lugares comuns.
“Full Moon Dance” é outro brilhante exercício de hard melódico onde tudo se encaixa, evocando aqueles jeitos dos anos oitenta que são tão populares entre os amantes do género, notavelmente alto. “Never Fear The Unknown” marca a metade do caminho, sendo esta peça talvez mais previsível, mas não descartável. Com "Gods Of War" o lado B começaria e, como o título indica, só poderia ser uma música furiosa (dentro da janela estilística do grupo, é claro) com um refrão e rufar de tambores que tingem o tom guerreiro com um tom guerreiro, grande tema.
A banda então aborda "Frozen Heart", e tu sabes com o primeiro som que tudo vai ficar bem. Chuva de notas de teclado em um delicado mid-tempo com uma melodia de emanações cinematográficas que seriam pintadas para um “Top Gun”.
Com "The Long Road"eles continuam no meio-tempo, talvez sendo mais negligentes nas suas demandas criativas. Torna-se brando e lê-se como uma oportunidade perdida, no entanto, recuperam o bom tom com "Feel The Vibe", onde o otimismo reina novamente numa música dinâmica que é tão agradável de ouvir quanto inofensiva. Eles terminam o jogo longo com “Love & Devotion”, a balada poderosa que o roteiro exige. Nesta ocasião também deveriam ter sido um pouco mais exigentes, deixando o resultado num «quero e não posso».
Em suma, um trabalho excelente e surpreendente onde eles apagam sua impressão sleazy anterior com um golpe de caneta para abraçar o melódico rock com prazer.
Temas:
01. Return to Glory (04:36)
02. Unleash the Fury (04:08)
03. Ready or Not (04:09)
04. Full Moon Dance (04:07)
05. Never Fear the Unknown (04:11)
06. Gods of War (03:41)
07. Frozen Heart (04:44)
08. The Long Road (04:43)
09. Love & Devotion (04:33)
Banda:
Katt Mars - Bass
Rafa Souza - Guitars
Gio Sanchez - Drums, Keyboards
Toney Richards - Lead and Backing Vocals
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